Conhecimento
sustentável
Tempos modernos. Novos
índios são descobertos entre os antigos designers. Pais e filhos da arte estão
pesquisando e inovando, reinventando o que já estava inventado, adormecido e
esquecido. Resgatando conhecimentos e usos antigos desprezados pelo
cientificismo. Resgatando uma diversidade de conhecimentos que se tornou encapsulada,
e chamou-se de cultura, um modo de arquivar sem desprezar, usar sem cultuar.
Deixar guardado até que a ciência lhe de um passaporte autenticado para
participar do presente.
O conhecimento fugiu da
academia, ultrapassou os muros da universidade. Ganhou carta de alforria para
exercer e percorrer um novo caminho, a plurivercidade. Um entrelaçar do místico
e do cientifico. A mudança de uma visão heurística para uma visão holística.
Artistas morando ou
acampando em refúgios urbanos, em áreas históricas e primitivas das grandes
cidades, agora pesquisam novas técnicas e estratégias para usar e divulgar a
sua arte. Criam ideias para outros artistas. Pesquisam produtos alimentícios e
condimentares para serem usados como tintas em suas telas. Cores com artes e sabores,
que deixam adubos como resíduos. Resgatam os usos e o conhecimento de indígenas
que usam ou usavam corantes naturais para pintar seus corpos, na arte ou na
guerra. As cores saem do corpo como suporte de mídia, a arte em ambientes
naturais e abertos, livres, para agora ocuparem outras mídias de suporte que
levam imagens à galerias fechadas e refrigeradas.
O conhecimento indígena foi
desprezado pelo catolicismo e pelo cientificismo, uma ciência copiada nos
moldes religiosos, com regras, rituais e hierarquias (A usurpação da ciência,
1, 2, 3, 4, 5 e 6: Jornal de Hoje. Natal/RN, 2013)*.
O índio brasileiro não
deixou livros escritos, não escreveu monografias, dissertações e teses, que
perpetuassem nos arquivos das revistas cientificas e referencias bibliográficas.
Não escreveu artigos nos moldes da academia. Mas deixou inscrições rupestres em
sítios arqueológicos que só eles poderiam escrever e interpretar. Uma
informação fossilizada pela ciência. E pesquisadores poderão um dia entrar em
conflitos defendendo dissertações e teses, a partir de interpretações diferentes
por linhas diversas de pesquisa, nas pinturas grafadas em pedras ou argilas.
O conhecimento e o
comportamento dos indígenas foi ate hoje analisado por olhares denominados como
civilizados. Sobreviveu ao longo da historia, com historia oral entre os povos,
passando comportamentos e conhecimentos de pai para filho, de geração para
geração. Sobreviveu como um teatro e um relato vivo, mantendo e preservando seus
conhecimentos e sua cultura, por meio de apresentações e manifestações culturais,
com musica dança e desenhos; artes e artesanatos, armas e utensílios. Na sociedade
intelectualizada o conhecimento indígena ficou restrito a movimentos folclóricos
e datas especiais lembradas para ocupar espaços curriculares no ensino
fundamental e no calendário escolar. Com fantasias e comportamentos que não correspondem
a índios de uma aldeia real.
Apenas nas igrejas ainda
preserva-se cantos e rituais, a igreja reconhecida e autorizada pela ciência e
pela sociedade. O conhecimento sustentável é um resgate do conhecimento
primitivo. Não há lugar melhor para obter informações e conhecimento observando
os índios, suas crenças, seus comportamentos e seus conhecimentos. O índio é o
elo entre o homem urbano e o homem primitivo, o elo esquecido e perdido.
O índio não faz comercio e
não cria indústrias. Não imprime cédulas e não faz câmbios com moedas
estrangeiras. Não armazena produtos e não conserva alimentos. Não esconde
estoques para futura negociação com manipulação de preços e mercados, nacionais
ou internacionais. Não aplicam em bolsas de valores, mas fazem cestos e cestas para
transportar suas caças, pescas e coletas. Com redes descansam e analisam o que
ocorre a sua volta. O seu transporte construído para cobrir grandes distancias,
foi a canoa, que aproveita a correnteza de um rio, e em sentido contrario é com
a força nos braços impulsionando varas e remos que superam uma corrente fluvial. Não deixa rastros de desertificação
e de fumaça. O índio não deixa rastros de industrialização marcados por rodas,
deixa apenas pegadas na areia, por onde pisa.
E quando na areia não tiver
mais as marcas de rodas, e sem trilhas de lixo, apenas as marcas de passadas
feitas por pés, ali o indígena estará carregando a humanidade, um lugar para
onde a humanidade precisa ir, interagindo com o meio ambiente. Conhecimento e
cultura indígena, um trunfo guardado pela ciência, para a solução da conservação
ambiental e sustentabilidade.
R Cardoso
Parnamirim/RN, o Trampolim
da Vitoria, em 26/04/15
Conhecimento
sustentável
Texto disponível em:
(*)
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domingo, 26 de abril de 2015
Conhecimento sustentável
segunda-feira, 20 de abril de 2015
EADs - A distancia da educação (1)
EADs
- A distancia da educação (1)
Enquanto docentes de universidades
publicas, com recursos de empresas e instituições governamentais voltadas à pesquisa
e o fomento, vão investindo e produzindo um conhecimento, as faculdades
particulares vão trilhando os passos das faculdades e escolas federais, e mais algumas
estaduais. Vão seguindo as pegadas do saber deixadas na areia por pós-graduados,
entre mestres, doutores e pós-doutores, frutos das denominadas academias do conhecimento.
E assim julgam que com valores financeiros arrecadados de alunos podem fazer e
saber muito mais. Contratam pós-graduados oriundos das Federais para compor seu
corpo docente, na tentativa de agradar e comover o corpo discente, com suas
estratégias de propaganda e marketing. Particulares não estabelecem em suas
ações e metas, a base triangular de uma universidade: ensino, pesquisa e desenvolvimento,
com a prestação de serviços à comunidade. Consomem o que não produzem. Produzem
apenas o que consomem: alunos que se formam e retornam aos bancos escolares. Sempre
como novos alunos, carentes de um novo conhecimento, nas complementações, nas atualizações,
nas especializações e nas capacitações.
Fundações de amparo à
pesquisa, federais e estaduais financiam estudos e projetos a quem produz pesquisa
e gera um conhecimento. Um espaço de poderes hierárquicos com certificados, diplomas
e títulos, cada vez mais raros, com difícil acesso e obtenção. Um espaço social
com disputas de saberes e conhecimentos; e brigas curriculares por um espaço
distinto do espaço comum. Espaços sempre dominados pelos intitulados como detentores
de um conhecimento, os doutores e pós-doutores, os filhos de Lattes. Os
arquétipos mitológicos e catedráticos. Deuses do saber e do conhecimento que
ocupam um espaço simbólico de domínios e saberes. Com financiamento de seus
projetos fortalecem seus capitais científicos e intelectuais, estabelecem um
domínio, um espaço simbólico e um campo
social de profissionais que criam e formam um habitus, com regras particulares de dominação, tradicionais e
conservadores, calcados na tradição histórica, de escolas e academias. Ali
constroem seus arcabouços teóricos em teorias empíricas, suas teses e seus
objetos científicos.
A reciprocidade do
conhecimento é um exercício social que favorece o desempenho da sociedade e da
faculdade. Mas o lucro fala mais alto. Faculdades particulares ensinam aos
alunos como estabelecer missões e visões, mas não são capazes de fazer o seu
próprio dever de casa. Cobram focos e metas em um conhecimento oferecido e planificado.
Produzem formandos em serie, para que em breve retornem para lustrar novamente os
bancos escolares em busca de novos conhecimentos não adquiridos. A escola empresarial
a serviço dos empresários; o capital do conhecimento em nome do capital
econômico. Com a produção de muito pouco capital intelectual.
E as faculdades particulares
descobriram um novo filão para vender seu suposto conhecimento: a Educação à
Distancia (EAD). A possibilidade de obter clientes estudantes, desejosos de um certificado
ou diploma. Clientes e estudantes distantes de seus espaços escolares: do campus
universitário, de seus campis e de suas outras instalações, urbanas e
suburbanas, centrais ou rurais. Uma distancia que pode trazer mais benefícios e
lucros à instituição particular de ensino, os grandes Startups, com tecnologia
e empreendedorismo. Redução e economias de espaços e custos de manutenção. Se a
intenção da universidade é formar cientistas e pesquisadores, já se perde desde
já um campo de estudos, um campo educacional para pesquisar, o ambiente
estudantil.
O homem é um ocupador de
espaços, um pesquisador e um explorador nato. Vive e convive com histórias e geografias.
Quem não vivencia um espaço, não
descobre e não percebe problemas: administrativos ou educacionais. Faculdades
nunca antes vistas no cenário da educação aparecem para vender uma nova
mercadoria, a prestação de um novo serviço: uma educação à distancia. Surgem do
nada exibindo anos e anos de experiência presencial.
EAD, um modelo de ensino que
mantém o aluno à distancia do ambiente educacional. Um modelo embasado pela
justificativa da atualidade e necessidade do aluno. Nunca da comodidade e
interesse institucional. Um modelo que exime de responsabilidades à instituição
educacional. Salas virtuais com escolas virtuais, e professores virtuais. O
aluno que frequentava as aulas e não prestava atenção era acusado de estar nas
nuvens. Agora vai ter que buscar arquivos e conhecimentos em ambientes de
nuvens, ou será acusado de não ser capacitado às novas versões e inovações, os
alunos virtuais.
http://www.publikador.com/author/maracaja/
http://www.publikador.com/author/maracaja/
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Natal/RN 20/04/15
Roberto Cardoso
IHGRN/INRG
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Texto escrito para:
Informática em Revista Ed Abril/2015
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